E, encostado no rosto das casas, sorrir...
Saber que o céu está lá em cima.
Olhar, reparar tudo em volta,
sem a menor intenção de poesia.
Lembrar da cidade onde se nasceu,
com inocência, e rir sozinho.
Como é bom a gente ter nascido
numa pequena cidade banhada por um rio.
Rir das coisas passadas. Ter saudade da pureza.
Lembrar de músicas, de bailes,
de namoradas que a gente já teve.
Lembrar de lugares que a gente já andou
e de coisas que a gente já viu.
Lembrar das viagens que a gente já fez
e de amigos que ficaram longe.
Lembrar dos amigos. Recordar um por um.
Acompanhá-los na vida.
Como estão longe, meu Deus!
Um aqui. Outro lá, tão distantes...
Saber que a gente tem amigos de fato!
Lembrar que a gente, afinal de contas,
está vivendo muito bem
e é uma criatura até feliz. Ficar admirado.
Descobrir que não nos falta nada.
Dar um suspiro bom de alívio.
Olhar com ternura a criação
e ver-se pago de tudo.
Descobrir que, afinal de contas,
não se possui nenhuma queixa.
E que se está sem nenhuma tristeza
para dizer no momento.
Como é bom a gente ter tido infância
para poder lembrar-se dela.
E trazer uma saudade muito esquisita
escondida no coração...
Foto: "Thiago Montenegro Lucena -Arquivo pessoal"
Música-do-dia: "Desesperadamente - Sergio Pi"
Texto: "Adaptação de Olhos Parados - Poesias - Manoel de Barros"
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