quarta-feira, 30 de julho de 2014

Criatura feliz

 
E, encostado no rosto das casas, sorrir...
Saber que o céu está lá em cima.
Olhar, reparar tudo em volta, 
sem a menor intenção de poesia.

Lembrar da cidade onde se nasceu, 
com inocência, e rir sozinho.
Como é bom a gente ter nascido
numa pequena cidade banhada por um rio.
Rir das coisas passadas. Ter saudade da pureza.
Lembrar de músicas, de bailes, 
de namoradas que a gente já teve.
Lembrar de lugares que a gente já andou 
e de coisas que a gente já viu.

Lembrar das viagens que a gente já fez 
e de amigos que ficaram longe.
Lembrar dos amigos. Recordar um por um. 
Acompanhá-los na vida.
Como estão longe, meu Deus! 
Um aqui. Outro lá, tão distantes...
Saber que a gente tem amigos de fato!

Lembrar que a gente, afinal de contas, 
está vivendo muito bem 
e é uma criatura até feliz. Ficar admirado.
Descobrir que não nos falta nada. 
Dar um suspiro bom de alívio.
Olhar com ternura a criação 
e ver-se pago de tudo.
Descobrir que, afinal de contas, 
não se possui nenhuma queixa.
E que se está sem nenhuma tristeza 
para dizer no momento.

Como é bom a gente ter tido infância 
para poder lembrar-se dela.
E trazer uma saudade muito esquisita 
escondida no coração...

Foto: "Thiago Montenegro Lucena -Arquivo pessoal"
Música-do-dia: "Desesperadamente - Sergio Pi"
Texto: "Adaptação de Olhos Parados - Poesias - Manoel de Barros"

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