Ele era um cara comum, extrovertido até onde poderia ser. Ela uma menina mimada, metida e metida à chata. Bonita, mas chata. Essa era a versão dele. Ela era uma menina simples e adorável, doidinha até onde poderia ser. Ele era um mimado, chato, um nerd metido, metido à estudioso. Essa era a versão dela. Eram parentes, de certo modo, irmãos de sangue. Primos exatamente. Vindos do interior, viram-se obrigados a aceitar os acordos paternais. Receberam de sobressalto a notícia de que iriam morar juntos na capital pernambucana. As primeiras linhas dessa história vieram à mente de ambos, rapidamente, ao receberem a notícia. Quem não paga suas próprias contas não tem escolhas...rs. Ele foi morar no apartamento em que ela morava. A recepção foi um tanto traquila, meio tensa, um "olá" acompanhado de um "tudo bem?" desconcertado. Nada tinham em comum para conversar. Primeira noite, cada um foi pro seu lado com suas turminhas. Um amigo dele, salve!Carlinhos, certa hora da noite arrastou-o prum barzinho que costumavam frequentar - Soparia - no Pina. Barzinho de gente descolada e alegre que enchia a cara até as primeiras radiações UV. O amigo contou-lhe que queria apresentar uma amiga - linda! - suspirava ele. Realmente, a garota era linda, de um sorriso enorme, boca escancarada. Seria mais uma bonitinha na noite, não fosse a tal garota sua prima. Risadas atrapalhadas vindas dos dois lados, mais uns segundos de desconcertos e a noite prometia ser uma criança. Quem tinha parentesco conversou por horas a fio, riram pra valer. Saíram daquela noite com outras ideias. Ela era nem tanto metida, nada metida, pensou. Mas, ficou mais bonita a partir daquilo. Assim era a nova versão dela pra ele. Ele era nem tanto nerd, era nerd numa escala de menor periculosidade, era até divertido. Era a nova versão dele pra ela. A partir daí as coisas começaram a se encaixar. Os papos fluiam com absurda simplicidade. Quem não se gostava antes começou a sempre ter o que contar, a perceber velhas tradições, casos de assombração, costumes antigos, usanças comuns, sentidas recordações de outros tempos, estórias de saudades, histórias compridas, detalhadas, sentimentais, regadas a suspiros... Perceberam assim, muitas, muitas coisas em comum. Brigavam também, mas sabiam pedir perdão e sabiam perdoar. Os perdões vinham acompanhados, as vezes, de um castiçal, já que ele amava ler e não tinha, sequer, um abajur no quarto pras leituras noturnas (essa história só eles vão entender, caro leitor, não se avexe não). Surgiram amigos em comum e com eles muitas noites de música, violão, rádio de pilha emprestado da Têquinha, vinho(s) barato(s) e risadas gostosas nas areias da praia de Boa Viagem. Alguns amigos quase moravam no apartamento, salve!Pessoa. Falar em Tequinha, eles nunca esqueceram da alegria que um sanduíche de hamburguer congelado pode trazer...rs. Ele ainda hoje recorda com o coração sorrindo as horas em que tinha que ir trampar e ouvia a voz dela dizendo "vai não...vamo pro cinema...". Ele confessa que filou o trampo (uma vez perdida) e foi ao cinema com ela...rs. Ela tem uma recordação suave da Chapada Diamantina e de seu ano novo circense. E a vida seguiu e cada um vive sua vida, separados, mas juntos. Juntos e misturados. Encontram-se sempre que possível, batem um fone, trocam receitas, comem feijão verde(!) e pão-de-queijo(!!), reunem alguns daqueles amigos, salve!Nêgo, para conversar, bater umas chapas de recordação, jogar conversa fora. Ele continua solteiro e a procura da batida perfeita pra sua vida. Ela é casada com o cara de voz, sorriso, risada e inteligência lindos, salve!Castor. Ele só queria com essa história contar pra ela que dia 04 foi o aniversário dela e ele num pôde ligar porque estava a milhas e milhas distantes do seu amor. Contar que ela foi seu passado e que faz dela seu presente e futuro. Contar que com ela o seu quintal é maior do que o mundo. Que ainda hoje ele tem o retrato velho na cabeceira da cama, quase amarelando, daqueles tempos. Que reza por ela sempre ao fechar os olhos. E que é ela uma das cinco pessoas que ele quer encontrar no céu quando chegar a sua hora. Pra sempre te amo. Feliz aniversário.
Px. /
Música do dia: "Felicidade - Marcelo Jeneci"/
Foto: "Happy Birthday to me - Luciene Honesko"
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