sábado, 11 de agosto de 2012

A Morte e seus amores



Aquele rapaz achou ridículo o formalismo da morte. Chegou à conclusão de que talvez a morte não se anunciasse daquela vez, porque não dependia do acaso mas da vontade de seu carrasco, a própria vida. A gente não morre quando deve, mas quando pode. Morrer é muito mais difícil do que a gente acha. Na verdade não se importava com a morte mas com a vida, e por isso a sensação que sentiu quando pronunciaram a sentença, no início, foi um sensação de medo e depois de pura nostalgia. Não falou nada até que perguntaram qual era o seu último desejo.  A certeza de que seu dia estava determinado investiu-o de uma imunidade misteriosa, uma imortalidade com prazo fixo. À força de não conseguir pensar em outra coisa havia aprendido a pensar frio, para que as recordações inevitáveis não machucassem nenhum de seus sentimentos. Isso porque ele achou alguém por e para quem viver os seus últimos dias.

Foto: "Sobrevivência - Rui Miranda"
Música-do-dia: "We are young (feat. Janelle Monáe) - Fun."
Texto baseado e adaptado: "Cem Anos de Solidão - Gabriel Garcia Marques"


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