quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Ideia fixa



Aquele rapaz tinha a ideia fixa de que se poderia prolongar, esticar mesmo, a infância para um sempre. Aquela feliz inocência morreria naquela tarde quente de dezembro. Muitas coisas passariam na sua mente, agora confusa. Mas tudo o que ele achava era que estava certo, e o melhor - não o melhor, talvez, o mais correto - a fazer fosse ser mais chato e mais sério. Ainda anotou outras tarefas: seria menos radical e mais paciente consigo, com os outros e com as coisas que não poderiam ser mudadas sem uma injusta guerra, mesmo que isso implicasse em desistir da vontade de dar uns bons tapas em algumas pessoas vez por outra. Era hora de acordar pra vida, de solapar as alegrias bobas-quase-infantis, os esteriótipos-adolescentes, as aparências. Mas, antes de mais nada, ser adulto. Com esse mesmo adulto nasceria uma solidão infindável. Sua vida a partir dalí poderia ser comparada à vida de uma personagem de ficção contada em muito poucas linhas - nada de expectativas ou de grandes sorrisos ao acaso. Aquele mesmo rapaz passara longos períodos em que não sentiu quase nada. Esquecera de manter o sorriso em seu rosto. Naquele mesmo dia morrera a criança e o encanto às surpresas da vida. 
 'Ele viveu uma boa vida' - foi o que ouviu dizer antes de ir de encontro àquela criança que se havia perdido num passado-não-muito-distante.

Música-pra-se-ouvir-lendo: "Canção em modo menor - A. C. Jobim"
Foto: "Hollywood - Os Saltimbancos Trapalhões feat. Lucinha Lins"

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