Dádiva

Nunca fui muito de escrever em diários. Tive alguns no passado remoto. Hoje tenho um, de 2010, por sinal. Fiz uma faxina em empoeirados cantos e descobri um antigo diário de anotações. Ali redescobri o gostar de amigos que nele escreveram ou deixaram sua marca, redescobri os inícios e términos de amores tórridos e sempre eternos, redescobri os inúmeros dedos que me faltaram as mãos pra contar as "morridas de amor", os intermináveis rabiscos e anotações de mesa de lanchonetes, restaurantes e praças. Redescobri alguns dos sempre surpreendentes melhores dias de minha vida e dos piores também, a anotação tímida no canto da página no dia em que meu querido velho foi dessa pra melhor e eu, apenas eu, sei da culpa que senti, mesmo que não fosse culpa minha essa partida repentina e sem necessidade alguma de pressa. Redescobri sonhos sonhados. Planos perfeitos. Alguns vividos, outros perdidos, uns esquecidos (o que eu fiz deles?). Folheando cada página mal amarelada, redescobri como amei demais, como me dei para certas pessoas e deixei de cuidar de outras que tanto mereciam meu respeito.

Vivi muito e queria poder recordar mais detalhes.

Ter paz interior é difícil, mas custa pouco, quase nada. Não tenho certeza e nem garantia de que mudarei meu mundo. Sei que estou aqui e que vivo com meus demônios interiores, com meus erros, minhas decepções, minhas esperanças, minha pouca fé. Mas, ainda vivo. E quero acreditar que isso é o que importa. Quero poder acreditar e escrever em novos diários que meus incríveis melhores dias ainda estão por vir.

"Uma mente tranquila não é dádiva pequena." (Ucem)

Música do dia: (Silêncio)

Foto: "Diário da tua ausência - Pedro Meira"